Mais uma noite, fim de domingo, a velha sensação de ter acabado a vida. Simples assim. A vida acabou e permaneço sentado à espera de não-sei-o-quê. Os créditos do filme já subiram. Estou agora diante da tela negra... não sairá mais coisa alguma dali. Não haverá extras, nada. Mais uma noite sentado, refletindo sobre coisas que não valem a pena. As mesmas ladainhas. Li hoje numa página da Clarice “-acho que não preciso vencer na vida”. Resume bem a situação.
Pela primeira vez em muito tempo estou cansado da pilha de papéis, mas não tenho nada à mão para substituir o vazio deixado por ela... Sem meu mundo de papel resta apenas a vontade de fazer coisa alguma.
Há um momento em que todas aquelas idéias cansam, sabe? Chega uma hora que não consigo fazer mais conexões e tudo cansa... começo a me perguntar sobre a serventia daquela papelada toda... Uma fuga por uma estrada branca ladrilhada por letras. Mas o mundo de papel cansa na sua monotonia bi-color e nas paredes demasiado frágeis ao toque e a chuva: ela alimenta a vida e destrói o papel.
Acho que é por isto que detesto chuva, por isso fico mau-humorado quando os pingos me tocam e ensopam minha roupa, por que sou um homem de papel que sob a mais fina garoa vê todas as tatuagens borrarem enquanto sente o próprio corpo pesado e transparente simplesmente virar um monte disforme que logo desaparecerá pisoteado pelos passantes.
O homem de papel também deve manter-se longe do fogo da vida, viver transformaria-no rapidamente em cinzas a serem sopradas pelo vento.
Também o contato com as pessoas é nocivo para ele, a acidez da pele gradativamente o degrada, o manuseio constate estraga as encadernações de linha que formam seus tendões e músculos.
O homem de papel deve então ficar guardado numa prateleira após ser devidamente catalogado com números de chamada e tombo patrimonial. Ali ele poderá descansar guardando os segredos dos significados de suas tatuagens. Distante da luz para não desbotar. E nada choro, homem de papel, a umidade embolora as páginas e fará você ir mais cedo para a lata do lixo.
Devidamente acondicionado, longe das intempéries da vida, poderei até durar alguns séculos, quem sabe.
Pela primeira vez em muito tempo estou cansado da pilha de papéis, mas não tenho nada à mão para substituir o vazio deixado por ela... Sem meu mundo de papel resta apenas a vontade de fazer coisa alguma.
Há um momento em que todas aquelas idéias cansam, sabe? Chega uma hora que não consigo fazer mais conexões e tudo cansa... começo a me perguntar sobre a serventia daquela papelada toda... Uma fuga por uma estrada branca ladrilhada por letras. Mas o mundo de papel cansa na sua monotonia bi-color e nas paredes demasiado frágeis ao toque e a chuva: ela alimenta a vida e destrói o papel.
Acho que é por isto que detesto chuva, por isso fico mau-humorado quando os pingos me tocam e ensopam minha roupa, por que sou um homem de papel que sob a mais fina garoa vê todas as tatuagens borrarem enquanto sente o próprio corpo pesado e transparente simplesmente virar um monte disforme que logo desaparecerá pisoteado pelos passantes.
O homem de papel também deve manter-se longe do fogo da vida, viver transformaria-no rapidamente em cinzas a serem sopradas pelo vento.
Também o contato com as pessoas é nocivo para ele, a acidez da pele gradativamente o degrada, o manuseio constate estraga as encadernações de linha que formam seus tendões e músculos.
O homem de papel deve então ficar guardado numa prateleira após ser devidamente catalogado com números de chamada e tombo patrimonial. Ali ele poderá descansar guardando os segredos dos significados de suas tatuagens. Distante da luz para não desbotar. E nada choro, homem de papel, a umidade embolora as páginas e fará você ir mais cedo para a lata do lixo.
Devidamente acondicionado, longe das intempéries da vida, poderei até durar alguns séculos, quem sabe.
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