terça-feira, 27 de julho de 2010

Teu nome

Teu nome
escapou pela minha boca,
alcançou meus ouvidos.
lembrei dos teus olhos
do teu olhar...


E você sabe o olhar que tem

Teu nome
costuma escapar
da minha boca
assim,
sem mais nem menos
no ônibus,
observando a paisagem,
enquanto leio um livro,
caminhando por aí.


no meu ouvido

o som do teu nome vira eco
o eco da tua voz na minha cabeça

tantas palavras...

me confundo

não consigo pescar uma delas

Deixo escapar mais uma vez o teu nome
agora,
de propósito,
enquanto caminho pela cidade...

Antigas casas fechadas.

Lembrava do teu rosto
Tantas imagens...

às vezes você é tantas!

tua voz na minha cabeça


palavra amiga


conforto de ouvi-la
quando era tomado por aquele vazio, vazio
minha companhia do dia-a-dia

mais uma vez teus olhos

teu olhar

flash de vários momentos
tantos,
das tantas horas juntos
que infelizmente até se perdem


Tuas mãos, agora.

a lembrança delas

agitadas quando conversamos
tocando as minhas
às vezes. 

Enquanto caminho
tua voz
teu olhar
a lembrança do teu toque
bem viva na minha pele!
os abraços que me lembravam:
-vivo!
A tua
boca
lembro agora, observando meus pés enquanto caminho,

flor proibida.  

Na rua, meus pés avançam pelas pedras
Na minha alma,
momentos, palavras engraçadas,
teus olhos acolhedores
me observando.
ecos da tua voz
sentidos no meu peito!

Melodia triste.
Um piano embala estas lembranças suas
Enquanto caminhava
desejava encontrar você
como fazia
todos os dias
até outro dia

Mas te encontrar Hoje
Mas, vê-la
Hoje...




...é me ver sob a sombra


Mas (ainda) caminho até você
guiado pelo eco da tua voz
atraído pelo teu olhar
esperando tocá-la
o calor do abraço
o perfume
a sensação boa do encontro

As palavras ensaiadas, mas esquecidas.
Como naquela música.
Fica apenas
“A tua presença”

Mas indo na sua direção
meus passos hesitam por que, apesar de tudo que dissemos e escrevi ficou ainda uma ilusão:
que de alguma maneira
você era “minha”, e
que de alguma maneira
eu poderia procurá-la
sempre, já
que de alguma maneira,
pensava,

você estaria sempre acolhedora pra mim... 
Mas,
quando chego até você
há a sombra sobre mim
e
esta sombra
me ajuda
faz perceber
desfaz (esta ilusão)
qualquer coisa assim que me lembra a mudança e me faz acordar, mas resisto em acordar... o sonho é tão bom... é tão quente...





"Sinto que nossa proximidade mudará.
- escrevi -
Temo que aos poucos percamos a intimidade
que construímos, afinal ela tem que se dedicar a ele.
Temo que sem ela me sentirei muito só...”


Indo ao teu encontro
que é meu desejo
Meus pés por vezes hesitam, Hesito, hesito...

“Não posso mais procurá-la assim...”
penso,
as coisas mudaram
“Mas preciso vê-la!”

desejo VÊ-LA! 

E

Mais uma vez
teu nome escapa pela minha boca
Outra vez
teu olhar
tua voz

Aperto no peito
e uma chuva de imagens tuas
fica entre meus olhos e o horizonte

E o desejo de te encontrar predomina mais uma vez.

Lembrete

Preciso amadurecer.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Não estou apaixonado por alguém.
Já há um bom tempo não me sentia assim

E nestas últimas noites,
nenhum nome
invade minha mente
repetido
como mantra

Ela, ela, ela, ela...

E não tenho mais
a lembrança daquele breve instante
(teu Olhar)
fotografado pelas minhas retinas e
relembrado de modo incessante

(Naquelas noites
ele iluminava o sorriso
da boca que eu tanto desejava)

Agora.
De olhos fechados
à espera do sono
há apenas o Silêncio
(e o silêncio é tão negro quanto a noite...

Não ouço mais sua voz
em palavras lembradas
ou por mim mesmo inventadas
em estranhas situações,
de quase sonho,
onde,
mergulhando no sono,
ouvia
a onírica você dizer para mim
outros tantos sonhos...

E esse era o meu mundo, o de sonhos.
Mas Ela deixou de visita-lo.
E assim, de repente
não há enredo algum a ser encenado
no palco noturno.
Nem as reprises do contidiano
que um dia dividi com ELA
Nem tramas inéditas
escritas pelo ousado roteirista
(O Inconsciênte)

Agora em cartaz "o VAZIOinfinito"

Mas,
de quando em quando,
seu nome ainda escapa pela minha boca
e abre no meu peito
a caixa das lembranças,
tão significativas e calorosas!
E elas brilham nos meus olhos
o seu conteúdo de arca do tesouro.

Mas aquele encanto passou...

E meus dias começam
sem o desejo de encontrá-la
(e só encontrá-la)
o quanto antes.

E as horas seguem seu caminho circular
sem eu me preocupar com os cômicos ensaios
a respeito "do-que-dizer"
quando eu finalmente a encontrasse.

E todo o tempo que passava distante
(olhos no horizonte)
em devaneios, imaginando sei lá o quê
agora é preenchido com coisas inúteis
de tão pragmaticas.

Sabe,
a conjunção céu/chão do horizonte só é bela
quando os olhos enxergam além dela
qualquer coisa que aquece a alma
e canta:
-A VIDA ainda está VIVA!

Sem esta chama há apenas o céu cinzento
das ilusões esvaecidas...

E
apesar das ilusões brotarem da terra do peito
em dores lacerantes que não deixam dormir
e causam durante o dia alucinações que turvam
a visão para cotidiano que nos circunda
fazendo com que nada mais importe
além da ferida latejando no peito,
quando ela enfim fecha e percebe-se apenas a cicatriz
é possivel olhar ao redor e perceber que o dia está claro:

carros barulham
pessoas pessoas
Sem o véu sanguinolento
que escorre da ferida deixada pela flecha
tudo fica muito claro.
e
tudo muito sem graça!

Águas calmas e céu de brigadeiro
são bonita composição na pintura
mas não levam ninguém a parte alguma
Por isto sinto falta das tormentas...
Porque
sem paixão, não há sonhos
e sem eles não abro as portas do impossível

E a insensiblidade do meu peito cicatrizado
cega a visão do meu mundo
(e é essa visão que põe cores no que vejo à minha volta!)

E nestes dias iguais
perdi a gana por desbravar.
Tanto que agora me surpreendo
repisando trilhas sem grama
de terra dura e morta...

As dores das ilusões eram um tipo de vida,
(o dos sonhos)
O único eu conhecia na ausência da outra vida
(a verdadeira)
que desejava, mas não alcançava.

E o que me resta?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

VIVER

Deixar-se consumir pelas chamas.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Dias pouco produtivos. Não apenas neste espaço onde há muito não dou as caras, mas também nas conversas com os amigos, nas aulas de corpo presente, nos livros por onde apenas passo os olhos e viro as páginas sem compromisso algum. A promessa nunca cumprida de começar ao menos uma aquelas resenhas... Acordar para dormir.

Me sinto velho. Outro dia percebi que em muitas propagandas na tv o "pai-de-família" tem a minha idade... ééééé rapaz...

A necessidade de ganhar a vida por mim mesmo cada vaz mais presente no meu universo de preocupações, até eclipsa outras procupações. Preciso ter uma vida mais pragmática, mas pera lá: Quem já começa pensando no assunto não tem nada de promissor. O problema é que não consigo inventar nada para fazer... ganhar a vida é isto não é? inventar algo para fazer e ser pago por isto... tirar da cartola algo (bem ou serviço) que atraia a atenção de uma pessoa que dignifique a pagar pelo que foi feito. O problema (outro) é que não sei ganhar dinheiro. E reluto em aceitar o fatídico destino comum de matar o leão diário, pisoteado no subir e descer de escadas, ou ralado num balcão qualquer, ou esmagado por um carimbo que deita a baixo uma montanha de papéis ou ainda aspirado para os pulmões na forma de pó de giz. Faço muito terrorismo sobre esta vida de adulto que engole a todos. O problema (mais um) é que não aprendi a fazer nada útil... tudo que faço serve para coisa alguma- mem para mim mesmo.

O preço desta vida invitro é a redução drástica do horizonte, perfeitamente identificável nas palavras repetidas à exaustão sobre o Tédio. Mas refletir sobre o tédio é luxo, bem sei, mas o que fazer para me livrar desta prisão autoimposta da qual não tenho as chaves?

Preciso...
Olha ai o erro! Estas malditas frases iniciadas com "preciso..." tantos precisam de tanto! é constatar o obvio... precisam, mas bom tanto destes tantos conseguiram coisa alguma do que tanto precisam. ESTE este é um problema (outro ainda) : Que fazer quando nada se consegue do que tanto é preciso?

Mais uma vez os planos furados farão água... faltou peito para ir a diante (hum... novidade!) O problema é ter ainda onde se escorar. Aquela maldita terceira perna da qual fala a Clarice naquele livro que sempre recomeço a ler nunca termino. O lugar ruim e ainda é um lugar e graças ao comodismo se revela desgraçadamente cômodo no seu desconforto.

c o v a r d i a.

É o que está presente entre estas linhas escritas...

Mas autoindulgêcia é um vício mortal. Massagem no ego que justificar as impossiblidades e as derrotas e outras misérias que compõem este chiqueiro no qual tanto gosto de chafurdar...

segunda-feira, 31 de maio de 2010

"... ela varava então o círculo que dançava, e logo eu podia adivinhar seus passos precisos de cigana se deslocando no meio da roda, desenvolvendo com destreza gestos curvos entre as frutas e as flores dos cestos, só tocando a terra na ponta dos pés descalços, os braços erguidos acima da cabeça serpenteando lentamente ao trinado da flauta mais lento, mais ondulante, as mãos graciosas girando no alto, toda ela cheia de uma selvagem elegância, seus dedos canoros estalando como se fossem, estava ali a origem das castanholas..."
Raduan Nassar
Lavoura Arcaica

segunda-feira, 12 de abril de 2010

DENTRO, UM TURBILHÃO DE DEMÔNIOS
A PONTO DE EXPLODIR MEU CORPO
TODO MEU ÓDIO ESCAPARÁ PARA A ATMOSFERA!

mas

nos meus olhos vêem
apenas uma paz asséptica
Minha expressão de compreensão
significa ausência de emoções

A espontaneidade foi perdida.
Em seu lugar, um planejamento incompetente
inspirado por um falso desejo de isenção
Mas que de verdade
é conseqüência do medo.
Pois errar é fatal
Descobrir-se iludido é vergonhoso

Não há futuro, a cada dia que abro os olhos lamento o sonho perdido...

Catados Diários - Amaro Voyeur

As sombras são a minha casa
Nelas, desde há muito, observo a vida

apenas observo

colocado à parte
Escondido de todos na escuridão
sonhava minhas fantasias acordado
suplantando em meu mundo
a inveja que sentia dos prazeres alheios

Via,

incrível, mas é verdade,

no FUTURO a VITÓRIA

CERTA e REDENTORA

suplantar todos os fracassos que sentia.
Porque SABIA:
Das sombras,
refúgio dos dias vergonhosos,
passaria ao alto
iluminado pelo reconhecimento...
Afinal, sofrimento algum deve ser vão!

Mas o tempo correu
hoje me vejo velho...
e ainda me arrasto pelas sombras
à espreita da vida alheia
à espera de migalhas de atenção

Derrotado, como sempre
(já que as vitórias, aprendi, pertencem aos OUTROS)
Apagado, como nunca
porque
não trago mais o brilho do futuro
refletido nos olhos

Das sombras continuo a observar vitórias
Figurante obscuro e sem falas de uma peça
cujo erro em cena
ou ausência no palco
sequer seriam notados

Continuo um corpo inanimado ambulante
(caminhando pelos corredores)
de maneira incólume. Sem voz ou rosto,
fantasma de carne e osso,
através do qual todos olham, sem jamais ver
Perdido num labirinto de livros incompreensíveis

Sem matéria, imerso num mar de pessoas...

Catados Diários - ...sombria inveja

Sombras não existem por si.
são conseqüências
são a parte que não recebe luz
Estão fora
São coadjuvantes daqueles que brilham ao sol
Sombras são iguais, o negro – a ausência
Um espaço que falta
janelas para o nada
ambíguas entre o profundo e o raso

Sombras são frias, mortas
Refrescam por um instante, mas
logo são abandonadas
preteridas
pelo calor estimulante do SOL

Sombra é o medo
conseqüente à insegurança de não enxergar
conseqüente à insegurança de se perder
no meio da noite
de se sentir indistinto na escuridão

As sombras precisam da LUZ
para culpá-la
por tudo o que não são.

Catados Diários - fingido fujão

Abandonar o que?
Não trago nada em minha mala,
nada de amores ou conquistas.
Na minha trajetória desviei de todos os perigos.

Mas isto não impediu que eu fingisse audácia
E que culpa tenho se acreditaram em mim?

“Cínico! Sempre desejou que acreditassem!”
“Você precisava que acreditassem!”

O que?
Me faço de surdo
São apenas gritos dentro da minha cabeça..

Catados Diários - teórica paixonite

Tenho vergonha de minhas idéias
Sempre rasas e comuns

(Tenho vergonha do que digo pra mim
Sempre conceitos rasos e banais)

Tenho vergonha do que digo para mim e para os outros:
Sempre conceitos rasos, banais,
defensores de um ponto de vista qualquer
que eu achava serem MINHAS idéias
Mas hoje me disseram:

De tuas estas idéias nada têm
Elas é que te possuem,
te seduziram. Te ocuparam
E você as defende
como um amante cego aos defeitos da amada
Seja infiel àquela que te possui!
Deixe-se envolver por outras
Rompa com os amores antigos

De certo você cairá na incerteza
Será dolorido, não tem jeito

Mas só um novo feitiço desfaz o antigo
Páginas e páginas depois, ainda estou aqui... procurando por manuais sobre a vida-que-deve-ser-vivida, perdendo tempo com discussões empoeiradas. Nestes dias aspirei toda aquela poeira negra e ela impregnou meus pulmões. Agora o sopro das minhas palavras empesteia o ar de mortas partículas humanas... faço voar por aí matéria morta esquecida pelo tempo. Queria hoje era ter um coração de pedra. Mas digo “Calma...”. Percebo que o pulsar cada vez mais vagaroso e dolorido que sinto no meu peito é sinal de que aquele pó que circula pelas minhas veias pouco a pouco se deposita em cada átrio e ventrículo, então “Preciso ter paciência...”. Porque aos poucos esse músculo apodrecerá e logo se tornará apenas pedra e então, quando isto enfim acontecer, no meio da noite abrirei os olhos e poderei dizer que “Não dói mais...”.

Paper Man

Mais uma noite, fim de domingo, a velha sensação de ter acabado a vida. Simples assim. A vida acabou e permaneço sentado à espera de não-sei-o-quê. Os créditos do filme já subiram. Estou agora diante da tela negra... não sairá mais coisa alguma dali. Não haverá extras, nada. Mais uma noite sentado, refletindo sobre coisas que não valem a pena. As mesmas ladainhas. Li hoje numa página da Clarice “-acho que não preciso vencer na vida”. Resume bem a situação.
Pela primeira vez em muito tempo estou cansado da pilha de papéis, mas não tenho nada à mão para substituir o vazio deixado por ela... Sem meu mundo de papel resta apenas a vontade de fazer coisa alguma.
Há um momento em que todas aquelas idéias cansam, sabe? Chega uma hora que não consigo fazer mais conexões e tudo cansa... começo a me perguntar sobre a serventia daquela papelada toda... Uma fuga por uma estrada branca ladrilhada por letras. Mas o mundo de papel cansa na sua monotonia bi-color e nas paredes demasiado frágeis ao toque e a chuva: ela alimenta a vida e destrói o papel.
Acho que é por isto que detesto chuva, por isso fico mau-humorado quando os pingos me tocam e ensopam minha roupa, por que sou um homem de papel que sob a mais fina garoa vê todas as tatuagens borrarem enquanto sente o próprio corpo pesado e transparente simplesmente virar um monte disforme que logo desaparecerá pisoteado pelos passantes.
O homem de papel também deve manter-se longe do fogo da vida, viver transformaria-no rapidamente em cinzas a serem sopradas pelo vento.
Também o contato com as pessoas é nocivo para ele, a acidez da pele gradativamente o degrada, o manuseio constate estraga as encadernações de linha que formam seus tendões e músculos.
O homem de papel deve então ficar guardado numa prateleira após ser devidamente catalogado com números de chamada e tombo patrimonial. Ali ele poderá descansar guardando os segredos dos significados de suas tatuagens. Distante da luz para não desbotar. E nada choro, homem de papel, a umidade embolora as páginas e fará você ir mais cedo para a lata do lixo.
Devidamente acondicionado, longe das intempéries da vida, poderei até durar alguns séculos, quem sabe.
“Odeio ser eu!”
Essa afirmação me invade de modo freqüente há sei lá quantos anos. Quando menos espero:
“eu Odeio ser EU”
E mais uma vez começo a pensar nas fantasias tolas que me ocupam. E mais uma vez
“Odeio ser EU”
Porque me sinto imóvel enquanto o tempo arranca meus pedaços na imperfeita renovação do meu corpo: cada célula é uma cópia mal feita que se reproduz cada vez mais deformada até morte.
Por isso “eu odeio ser eu” A cada instante que me dou conta de que EU observo mundo através de meus olhos estragados pelo cerotocone que dia a dia se torna mais acentuado... Uma pirâmide na topografia de cada olho. Será que ficarei cego?
E me odeio cada vez mais enquanto escrevo estas eternas repetições. Tenho uma mente ruminante, vejam só! Uma prisão. Ramster de óculos correndo na roda... roda das lembranças de erros e frustrações que giram, giram, giram sempre iguais e distantes enquanto as persigo...
Só resta me odiar mesmo... preso de costas para vida observando as sombras, sombras, eu estou nas sombras... pretensamente inocente, a espera da luz redentora. E eu odeio ser EU porque tudo que sei dizer é que estou de mãos atadas, e mais nada. “oh! minhas mãos estão presas enquanto rolo descida abaixo. Realmente uma condição triste. Estou de mãos atadas enquanto a queda infinita da morte se aproxima. Sim, não conseguirei soltar as mãos para me agarrar à qualquer coisa. Mas sou consciente do meu presente e o que me espera.” Me agarro a isto, a esta ilusão, mas e daí? De que me serve a ilusão de consciência se estou rolando rumo à queda infinita?
“eu Odeio ser EU”
Por que há qualquer coisa que enterra meus pés no medo. O Vôo assim torna-se impossível.
“eu Odeio ser EU”
porque minhas chaves não abrem tranca alguma, muito menos aquelas que me mantém preso à COISA que está dentro de mim e que não me deixa viver. [Julia, esse Sol é mesmo de matar]
“eu Odeio ser EU”
Porque todo tempo lembro das minhas impossibilidades: as que nasceram comigo, as que me empurraram e as que reconstruo dia a dia...
...a música que não sei cantar, meu violoncelo imaginário, o talento que sonhei ter para o desenho... Queria saber desenhar o rosto dELA de todas as maneiras em todas as suas formas, as que já teve e nunca teve, para cobrir todas as paredes do meu quarto e as páginas dos meus cadernos. vÊ-LA surgir das minhas mãos a cada sonho.
...o vôo pelo salão em passos daçados...
...os lugares onde desejava estar, as situações que desejei viver um dia, os sentimentos que sonhei sentir.
... a força que gostaria de ter e que por isto invejo nos outros. Força para simplesmente não estar mais aqui nãofazendo as coisas de sempre.
... a vontade de um dia começar a contar para todos com paixão as coisas que fiz e vivi, no lugar de contar, como faço agora, contar como nãofiz...
Por isto que eu Odeio ser EU... porque nãovivo
“eu Odeio ser EU”
porque repito para mim que eu odeio ser eu, assim como uma dízima periódica daquelas que repetem uma seqüência finita... É assim meu discurso: repetido. Sem graça. Sem aquela coisa mágica de quem escreve bem... assim, cheio de mea-culpa vazia e inútil.

quinta-feira, 25 de março de 2010

8 anos

Estou aqui
sentado
no lugar de sempre
com meus livros espalhados sobre a mesa

Você passa
olha
e reclama

(mais uma vez você reclama)

Há algumas anotações no meu caderno
(também há revistas sobre a mesa)
me pergunto se estas palavras
servirão para alguma coisa

Você está de costas pra mim
(fazendo as coisas de sempre)
e
reinicia aquela mesma ladainha
inútil

Desta vez tentarei não dar atenção
(vou ler, desenhar)
já decorei tuas palavras
todas elas - e na ordem em que são ditas
os erros de português
as expressões erradas.

Eu te acho burra
já lhe disse muitas vezes.
Você nunca entende nada,
não dá a mínima importância
pro que faço aqui
sentado nessa cadeira.
Preocupa-se apenas em
"organizar"
aquele monte de tranqueiras
da "nossa casa"

-Você vai morrer um dia e
aquela porcariada toda
continuará lá,
do mesmo jeito.
Como se você nunca tivesse existido...

Não me lembro de alguma vez
você ter me perguntado se eu estava bem...
(também nunca perguntei se você estava bem,
é verdade)

Não sei se você lerá isto algum dia,
e se ler,
não sei se você vai entender
(porque você é burra)

"Você acha que a vida é ficar aí lendo?"

Você foi burra por ter casado
com alguém que nunca te valorizou
(não percebeu isso na época)

burra por ter tido um filho
(e de novo, e de novo, pelos que vieram depois)
Devia ter pensado nas consequências ANTES

Você continua falando, falando...
(Porque é tão difícil manter o silêncio?)
De que me importa
se você não aguenta mais
a vida que tem?
De estar cansada de fazer sempre
as mesmas coisas
todo dia

Não quero ouvir nada
quero me concentrar aqui
nesse texto cujo assunto
nem lembro mais qual era...
Por que hoje, não quero gritar com você
Não quero ceder a toda essa sensação
de impotência por estar sentado
à mesa tomada por livros amontoados
Me iludindo
achando que de fato
estou fazendo algo útil
enquanto o tempo corre e
permaneço dependente
de você

Hoje não quero me descontrolar
não quero gritar todas aquelas palavras feias
que você já ouviu saírem da minha boca muitas vezes
(Também quero poupar os vizinhos, é verdade...)

Não quero gritar com você porque você é burra
e não entende porque estou aqui
nessa mesa
em meio a essa bagunça

Você não vê que estou amarrado a essa mesa?
(pelo menos é o que acho...)

Você é burra por que se sacrifica demais.
Será que depois destes anos terríveis...

Nestes anos todos
me escondi atrás dos livros
empilhados na mesa

(fingia desvendar as "palavras difíceis")

Por isto pude me armar e
dizer que você é burra
De que outro modo poderia me defender de alguém que diz:

"Durmo tranquila porque sei que não fiz nada de errado.
E não tenho peso nenhum na consciência nem guardo mágoa de niguém"

Afinal,
é fácil apontar o dedo
e dizer
-A culpa é sua!
(isso vale pra nós dois)

Você dá importância alguma pros meus livros, não é?
Tá certo,
você nunca precisou deles pra viver...
(nem pra me ajudar a viver)

Engraçado que alguns dos livros dizem
que eles mesmos -os livros
não têm importância

Puxa,
você estava certa...
(mais uma vez)

E agora?
"não se pode esperar que alguém que a ama a trate com menos crueldade do que trata a si mesmo. A igualdade do amor é sempre bem terrível. Compaixão (não pena) pode ser uma coisa estupenda, mas o amor não sabe nada sobre o assunto"
Hannah Arendt
E só me restou o estético.
Forma vazia, plástica,
acessível aqui mesmo
na memória
remoldada o tempo todo
pelas palavras...
Claro, Confiança é algo que brota assim repentinamente, sem mais nem menos...
Amar é um verbo
cujas conjugações
só me escapam da boca pra dentro,
sempre raspadas e incômodas,
sempre acompanhadas de interrogações
muitas e muitas interrogações

sexta-feira, 12 de março de 2010

"E um dia virá, sim, um dia virá em mim a capacidade tão vermelha e afirmativa quanto clara e suave, um dia o que eu fizer será cegamente seguramente inconscientemente, pisando em mim, na minha verdade, tão integralmente lançada no que fizer que serei incapaz de falar, sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! o que eu disser soará fatal e inteiro! não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo, os homens, as dimensões, não haverá nenhum espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por instante, não instante por instante: sempre fundido, porque então viverei, só então viverei maior do que na infância, serei brutal e malfeita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende, me ultrapassarei em ondas, ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a incompreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo."
Clarice Lispector,
Perto do coração selvagem
-O mundo está lá fora, FZ. Passou da hora de dar um passeio
-Mas não tenho a chave da porta
-Você nem verificou se ela está trancada...

quarta-feira, 10 de março de 2010

Tempo de bicicleta

Meu tempo está acabando...
Meu tempo está acabando...
...e tudo que faço é repetir
que
Meu tempo está acabando...

Deitado
enquanto o sonho não vem
ouço os segundos passarem
... os ponteiros se atropelam

Meu tempo está passando...
Meu tempo está passando...
E mais uma vez
um livro nas mãos
enquanto
Meu tempo está passando...

Na minha mesa
papéis a serem engolidos
de modo convulsivo.
Espera pela saciedade que chegará nunca.

Meu tempo está passando...
Meu tempo está passando...
enquanto ando de bicicleta.
Tempo bom, este!

As rodas dela são mais velozes que os ponteiros!

Meu tempo passa
"quantos prédios novos por aqui..."
Minhas rodas devoram o asfalto
"minha primeira casa... reformaram tudo. Ficou feia"

Cansaço bom! Falam que é a Serotonina
ou a Endorfina? ou sei lá que outra ina.
só bobagens de laboratório que desmistificam a vida.

Me sinto bem porque
estou em movimento
Pausa para a Vida na nãovida

Susto!
Freeeeeeeeeeeeeeeeeio!
"Sempre tem um imbecil atravessando a vida da gente!"
Tempo, tempo...
Fração de tempo
desatenção
caminhão
queda
quebra
lembro agora do Homem Lento [Coetzee]
Medo...

"Quantos carros agora... Carnês no lugar de travesseiros! hahaha!"
Ganhar dinheiro...
tempo, tempo
perda de tempo
minhas rodas pelas ruas de sempre
compromisso algum

"nossa escola"
"a casa dela"
Ainda visito os mesmos lugares!
um problema isso.
as rodas parecem ir sozinhas
Conhecem até os buracos -parece.

mudança... (desejo por ela)
Tempo, tempo, tempo
o ciclo do ponteiro
o ciclo das rodas
o ciclo do meu caminho
Algumas pessoas devem me ver passar todo dia
o cara da bicicleta
(serei personagem desconhecido na vida de alguém?)

Meu tempo está passando... observo
Meu tempo está passando... lembro
"ali ficava um bar... agora é igreja"
"a farmácia do meu pai era aqui..."
À esta hora,
lembro ainda,
apoiado no balcão e mãos no queixo
esperando o tempo passar vagaroso...
Os ponteiros custavam a descer pela tarde!

Meu tempo está girando...
Meu tempo está girando...
enquanto percorro lembranças
nas ruas desta cidade
Não gosto de parar para apreciar a vista
(já fico muito tempo parado)
Com minhas rodas quero a velocidade!

A ilusão de ir para algum lugar, sabe?
por caminhos tão comuns, mas que
me fazem atravessar o tempo
que insiste em passar
passar
passar

Passa um Volvo
"Latim, eu rolo"
Volvo com minhas rodas tortas...
com minhas pernas tortas
pela estrada torta...
clec-clec do pedal quebrado
Tento ir em frente com minha vida torta.
(rolando pela vida abaixo)

Velocidade
clec-clec mais intenso
atenção
rangidos, peças raspando
Parece que tudo vai desmontar
mas na descida ela pede
-mais velocidade!
Todas as minhas forças no pedal
(minhas pernas doem)

E chega aquele momento:

pedaladas vazias

mais força não adianta.

Vento

ruído do cubo das rodas

tronco reto
braços soltos, abertos

Final da tarde no lado esquerdo


As pernas descansam:
longa subida ali adiante.

Curriculum Vitae

FERNANDO ZERO

Objetivo
Nunca tive objetivos claros na vida. O vento soprava e eu me deixava levar de modo inconseqüente sem grandes preocupações, perdido em sonhos e sem atenção à vida prática. Há algum tempo me encontro enroscado num lugar que não sei bem onde... atualmente penso como fazer para voltar a ser levado pelo vento. Sim, soltar as amarras e vagar por aí. É um sonho que tento tornar projeto A numerologia, minha consultora, disse que minha Alma ama a liberdade e está sempre em busca de aventuras para conhecer o novo. Isto me inspira de verdade...

Experiência
Sem experiência, ou melhor: experiente em não ter experiência. Daquelas pessoas que observam e conjecturam sobre o mundo e permanecem perdidas nas nãoações.

Formação
Graduado "Debatedor de Buteco Qualificado" pela Faculdade Terra do Nunca.

Interesses
Ser admitido para a Vida
Muitas coisas simplesmente não acontecerão na minha vida.
Sei disso.
O problema é o que fazer com esta certeza...

Ato falho

Muitas coisas simplesmente não aconteceram na minha vida.
Sei disso.
O problema é o que fazer com esta certeza...

segunda-feira, 8 de março de 2010

fragmento de carta

"Às vezes consigo dar alguns passos a diante, mas quase nunca sozinho. Minha sorte é a Vida calhar de colocar no meu caminho pessoas que me puxam ou me empurram em direção ao novo, mas meus pés travam no chão e não vou muito longe. Quando isto acontece logo vem a culpa por não saber o que fazer com a ajuda que meus AMIGOS me oferecem..."
"-Abre-te, Sésamo!"






E continuei do lado de fora

fragmento de carta

"Essa estranheza que sinto surge da minha dificuldade de aceitar os fatos como aparecem, do meu arraigado hábito de fugir às transformações impostas pelas contingências, invitáveis na vida de qualquer pessoa, mas às quais fujo alimentando tristezas profundas com saudades de um passado idealizado que não deixo morrer, e que não canso de reinventar de modo a ficar mais aferrado a ele. Aquele estranho hábito de ter o sofrimento como minha única fonte de prazer... Mas não é um hábito tão estranho assim quando me dou conta de que esse prazer sofrido por tantas vezes era meu único prazer, meu refúgio para não enlouquecer. A pergunta que me faço agora, dada esta constatação, é 'O que aconteceu comigo, o que fiz de mim, para me privar da busca por novos caminhos para seguir a vida?"
"-Fiat Lux!"






E tudo continuou escuro

fragmento de carta

"Muitacoisa não mudou nestes meses, e isto foi um problema. Achava que finalmente muitas insatisfações que sentia morreriam com 2009. Pensava que minha formatura fecharia um ciclo, e que eu renasceria em 2010 para o Novo. Acreditei que teria forças para realizar mudanças, das mais pragmáticas do cotidiano, às mais complexas que dizem respeito à minha relação comigo. Tracei até planos para mim. Estava otimista e espalhei para tanta gente que faria coisas novas, que percorreria novos caminhos. Mas passou o dia primeiro de Janeiro, e depois, o dia dez de Fevereiro. E nada aconteceu... eram apenas datas. E eu continuei refém de sentimentos que me destroem, esperando coisas que não irão acontecer, rastreando impossibilidades para justificar minha inação e em Março reiniciarei meu caminho diário para a faculdade farei as mesmas coisas de seis anos atrás."

segunda-feira, 1 de março de 2010

Catados diários - Passos sob o Sol

É Verão e o calor pesa sobre meu corpo
O ar: úmido, pegajosos e insuficiente
O sol frita minha nuca enquanto caminho

Espero ficar cansado demais,
demais pra pensar em meus problemas
queria que o SOL queimasse os problemas
junto com minha nuca.

Meus passos me carregam para
o mesmo destino circular destino circular
circular destino
circular
circular
cretino

As mesmas paisagens e
ás vezes
as mesmas pessoas

Sou a mesma pessoa (?)
com os problemas as perguntas
de sempre e
fugindo das respostas,
obviamente fugindo das respostas,
fingindo as respostas,
pois esta é minha tradição, traição (ou será sina?)

Procuro nos olhos de quem revejo hoje
resquícios do que estas já foram

Monto com estes fragmentos
um mosaico tosco
colado com lagrimas
muitos chamam isto LEMBRANÇA

Vivo um passado que não foi
imaginando um futuro que não será

O presente?
Ah! Este não tem importância
Ignoro-o


Meu problema é o verão
vontade de tomar algo gelado...
mas o bolso, furado
O calor,
as pernas dELAS

Meu problema é ouvi-LAS dizer
“-Você é legal”

Cada passo um segundo
pé esquerdo na parte branca, o
direito vai na preta
Mas cuidado com a risca da calçada!
não posso pisar na risca da calçada.
O equilíbrio do universo será abalado se
eu pisar na maldita risca da calçada...

BUMMM!!!

E tudo acaba.

Vejam como sou importante:
Bastaria eu pisar na risca da calçada...
Mas sosseguem!
Afinal sou um cara legal

Catados diários - Distúrbios da visão

Sou míope, portanto.
Significa que tudo para além de um palmo do meu nariz
resume-se a um borrão de cores
Também posso diquer que sou uma pessoa sem HORIZONTE

Ao longe as pessoas são apenas silhuetas genéricas
Mesmo aquelas que eu achava CONHECER
se perdem no meu horizonte amorfo
[TODO amorfo que me cerca]

Para mim as pessoas são apenas corpos

Mesmo quando estão perto e
posso observá-las em seus gestos

Quando posso observar seus gestos

Mas quando elas estão próximas e
posso dar atenção a seus gestos peculiares,
não posso dizer que as enxergo

E não adianta
Mesmo que estejam tão próximas ,
mesmo que eu as visse nítidas
e se destacassem como um ponto nítido...

De vez em quando vejo uma silhueta se destacar desta neblina e
ganhar forma enquanto se aproxima...
se colocar nítida pra mim
Posso então fixar meus olhos nos dela
Perceber as particularidades de seu rosto
[um rosto dotado de expressões]
Mas mesmo quando ela se põe nítida
Ainda vejo só um corpo
não vejo uma PESSOA
mesmo esta proximidade não me permite enxergar nada além de um corpo

Percebo então:
Meus olhos, coitados,
como quaisquer outros,
só podem enxergar corpos.
VIVOS ou INERTES
Eles não podem ver pessoas

Não é culpa dos meus olhos míopes
Se não posso ver uma pessoa em outros olhos
Se não consigo ver uma pessoa
nos olhos diante dos meus olhos
não é por culpa dos meus olhos míopes

[Outra miopia me impede de enxergar as pessoas]

Outra miopia me impede de ver outra pessoa
Nos olhos diante dos meus olhos

[Outra miopia não me deixa ver as pessoas]

Outra miopia me impede de ver as pessoas

Outra miopia restringe meu horizonte a um
espelho no qual vejo refletidos meus defeitos
a reflexos de meus defeitos

Outra miopia me impede de ver as pessoas
(torna outros olhos meros reflexos de meus defeitos)
torna outros olhos meros espelhos
que refletem meus defeitos

(Me mostram no lugar de pessoas
miragens sólidas (de corpos) num denso VAZIO)

Outra miopia me impede de ver pessoas e
me mostra miragens sólidas cujos olhos...

No lugar delas vejo miragens sólidas num denso vazio
cujos olhos são meros reflexos de meus defeitos

Poderia dizer que é uma Miopia da Alma?
(se eu acreditasse em ALMA)

Pessoas não são vistas / As PESSOAS não podem ser vistas
pessoas são sentidas
Pessoas são sentidas nos corpos (?)
Mas para mim elas são miragens sólidas
em meio a um horizonte vazio e denso
Vazio por não sentir nada além de mim
Denso por que MEU egoísmo ocupa tanto tanto tanto tanto
que IMPLODO
num buraco negro

Os corpos apenas refletem meus defeitos
Sentir pessoas
Sentir pessoas
Não sinto as pessoas
Corpos são como estátuas
miragens sólidas.

Uma reflexão ao final do semestre

-Você não olha nos olhos quando conversa. – fui supreendido certa vez.
-Como assim? Esta é minha maior preocupação quando converso com alguém, pois me sinto inseguro, tenho medo de não entender e de não dar atenção ao que me dizem...
-Você olha nos olhos quando ouve. Quando fala, você olha para baixo, para todos os lados, menos para os olhos da pessoa com quem você está falando.

Sempre que converso com alguém me pergunto: Entendo o que esta pessoa quer me dizer? Será que eu quero entender o que ela quer me dizer? Me preocupo com ela e com suas ansiedades? Ou será que estou surdo ao que ela me diz e apenas preocupado em rotular o que é dito? Será ainda que vejo-a como um espelho e o que invariavelmente critico são meros reflexos de minhas características negativas, de meus fantasmas? Minha ansiedade transparece na minha obsessão por olhar nos olhos das pessoas enquanto converso.
Mas percebi: o que foi dito sobre mim era verdade e isto me desmontou, percebi então que minha preocupação em dar atenção às pessoas para tentar entendê-las nada valeria se eu não soubesse orientar minhas ações de acordo com a mensagem que desejo transmitir.

“Você desfoca, sai do tom
Se perde e não vê
Que a confusão começa
Dentro de Você!”

Geralmente meus semestres são acompanhados por alguma trilha sonora, músicas que me dizem “algo” relacionado ao que vivo, às vezes expressas nas letras, ou que sinto nas melodias. O pequeno trecho da música Você, interpretada pelo grupo Chicas, mostrou-me uma nova perspectiva para observar minha vida, dentro da qual ainda estou perdido.

Em outras leituras Hannah Arendt implodiu minhas pretensões de concertar os defeitos da humanidade e me alertou sobre a ilusão de caminhar com a história nas mãos. Com ela aprendi que o conhecimento não tem qualquer essência, e que ele pode matar a Vida se seu uso não for guiado pela capacidade humana de estar atento a tudo que esteja ao alcance de nossos sentidos, e que perante o horizonte da morte, a condição humana, as pessoas devem se preocupar sim em significar para si com elas mesmas, num diálogo interno, as impressões que guardam do mundo, mas não podem deixar de retornar sua atenção e seu sentidos para convívio com o outro, a comunidade, devem estar atentas umas às outras, em sintonia. Devem acolher e serem acolhidas para juntas em suas ações construírem o belo, o bom, construírem seus desejos enquanto fruem suas efêmeras vidas.
Mas sinto um abismo entre o que aprendi e aprendo das lições que tomei e a minha vida cotidiana, e me pergunto já há um bom tempo “Que diferença há entre aprender e viver? E como, ciente do que desejo para mim, faço para transformar minha vida? Como internalizo nas minhas ações e nos meus afetos o que aprendo pela cognição?” Nestas questões percebo as reminiscências de minhas ânsias logocêntricas, pois elas denotam o desejo de transformar a vida através do conhecimento.
Guardo ainda o desejo de utilizar o conhecimento para tentar entender minha vida. E para desvendar o Outro que me angustia: as pessoas com quem converso todos os dias, meus parentes, amigos ou pessoas de quem sequer sei o nome, mas com quem divido espaços do cotidiano, com quem tenho dificuldades em conviver. As lições de Hannah deixaram em mim o desejo de estar em sintonia com as pessoas com quem convivo.
Mas a observação que minha amiga fez sobre o meu olhar revelou que minhas ações são falhas, elas não expressam meu desejo de proximidade. Tão importantes para eu me entender com os outros quanto minha disposição em acolhê-los são minhas ações, preciso comunicar minhas intenções, ou permanecerei encerrado em minhas abstrações e desejos.
Numa festa uma outra amiga me disse algo que também me abalou:

-Gostávamos de você, mas você era fechado, não dava uma abertura para que a gente se aproximasse.

A amiga em questão é da minha “turma” ou seja, entrou na faculdade no mesmo ano que eu, assim estudamos “juntos” há cinco anos, mas escrevo juntos entre aspas, por que apenas dividimos os espaços da faculdade, pois foram poucas as oportunidades em que conversamos, e ela se referia ao seu grupo de amigos mais afins, com quem eu conversava e também sentia afinidades, mas sem conseguir me aproximar.
Parei para pensar no que ela me disse. Fiquei arrependido de muitas de minhas ações (ou omissões) nestes cinco anos, as pessoas que deixei de conhecer, com quem deixei de conviver nestes anos de faculdade devido a um receio para o qual não encontro justificativas, si apenas que ele está ali, sempre a espreita, e influencia minhas ações. Agora lamento sobre o tempo perdido, agora que estou próximo da saída da faculdade, mas só agora percebo que a falha é minha.
Com estas duas amigas e com Hannah Arendt pude aprender mais uma lição: que a maneira como se dá o acolhimento e a partilha da realidade entre aquela comunidade de pessoas unidas pela efemeridade fenomênica da vida humana é a atuação em um Palco comum a todos que estão vivos. Hannah escreveu que Ser e Aparência coincidem, que mera existência implica na capacidade de aparecer e perceber a aparência.
As pessoas contracenam e a vida do espetáculo depende da capacidade de Pensar de cada ator, ou seja, da capacidade de agir de maneira que o outro perceba sua intenção e de perceber a intenção do outro para a manutenção da sintonia. A dinâmica do espetáculo da Vida é o constante exercício de interpretação e comunicação entre os atores. A falha na comunicação ou a interpretação ineficiente na expressão dos anseios resulta na perda do senso de realidade, ou seja resulta na morte do espetáculo. Sem diálogo e troca as pessoas tornam-se mônodas belicosas e assombradas por medos fantasiosos.
[...]
27 de Novembro de 2008
Esse meu mundinho de papel dobrado é pequeno pra você.
Ele promete representar toda a vida existente fora dele.
Mas apenas representar...
Re-presentar...
Tornar presente outra vez.
Mas é mentira.
O que já está morto não re-vive.

Você, aproveita o que está vivo enquanto Vive.
Tentei aprender esta tua lição, mas aprender não é viver
e tentar
(infelizmente)
não é conseguir...

Você passa por todas aquelas coisas escritas,
tão difícieis para mim,
com desenvoltura,
leve,
meio perdida às vezes...
mas é poque você sabe que são todas
coisas pequenas
Você sabe: o que importa está fora do mundinho de papel dobrado.

Até queria sair daqui eseguir teu exemplo
para também ficar com a pele dourada pelo SOL
Tua pele dourada pelo sol...
marca da tua Vida Vivida
e desejo alimentado pelos meus olhos
(a gente deseja o que sente falta, lembra?)

Mas por enquanto, sabe-se lá até quando...
fico aqui dentro
protegido do SOL
Comtemplando as sombras mesmo...
as ausências...
as marcas negras que salpicam todas as paredes do meu mundinho de papel dobrado.


"Quando você chorou, era só por você e não pela admiravel impossibilidade de chegar até ela através da diferença que os separa.
De toda a história você só retém certas palavras que dizem aquilo que você tem: Doença da Morte. Bem depressa você desiste, você já não a procura, nem na cidade, nem na noite, nem no dia.
Assim, no entanto, você pôde viver esse amor do único jeito que lhe era possível, perdendo-o antes que ele acontecesse"
Marguerite Duras
"A doença da morte"
Hoje,
enquanto andava,
dava conta de uma mudança acabada de acontecer:

Ela já não é mais ELA, era agora apenas ela mesma. Que Bom!

E andando mais um pouco,
surpresa!
Encontrei-a.

Falamos um pouco:
a vida que segue costumeira,
as novidades dos dias iguais.

Observava a beleza dos olhos verdes.
Ouvia sua voz animada.

Despedida.
-Tchau!
-Até outro dia!

Agora diante de mim era epenas ela mesma.

ANIMA, enfim, perdia uma de suas faces!
No ônibus
observando os carros
a caminho daqui, pensei:

"Preciso aprender a errar..."

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Palavras dELA

Deitado, quase dormindo,
lembrei de umas palavras
escritas por ELA
já há alguns anos:

"As palavras são sopros que o vento leva"

Naquele dia,
e agora enquanto lembro,
senti um aperto...
Afinal,
minha vida é
composta por palavras
que repito e
re-significo
durante o sono
ou em vigília

Palavras, palavras, palavras...
todos os dias
lidas ou faladas
tornaram-se meu castelo
(castelo de sopro, veja só!)

Mas a vida
feita só de palavras
é vida?

Lembrei de nós
um dia
eu e ELA
faz tempo, já:
Sentados escreviamos
ELA pousou a cabeça no meu ombro
...Eu, continuei com as palavras

Quem se refugia ns palavras
sente medo

Pode até dar sentido ao que sente
mas deixa passar
o sentido do toque
não vive a vida viva em movimento

As palvras registram o que aconteceu
tardiamente...
Por vezes
registram a vida
que não foi vivida

Velharias - Ultima modificação 08/03/2006 20:15

Fragmentos de um diário

Menos de um mês para o reinício das aulas...
Dos nove livros de ficção que eu trouxe li apenas dois (sempre os planos nunca realizados)...

Não tenho a mínima vontade de voltar a estudar, quero rever os amigos, os conhecidos e as demais pessoas que formam aquele ambiente que tanto amo e detesto, que me exclui e do qual quero loucamente fazer parte. Aquele lugar que fede a [...], sabedoria, aparência e hipocrisia, onde me sinto deslocado por não saber sua língua de ideologias furadas e de melancolia. Onde eu sinto que as pessoas estão tão tristes, céticas e perdidas como eu, mas das quais me sinto incrivelmente distante. Sinto falta daquele lugar que faz sentir mal por [eu] nunca corresponder a expectativas, que me faz chorar por não entender teorias escritas por pessoas cujos ossos já viraram pó, e há muito já se misturaram a terra. Sinto falta daquele lugar onde não existo e no qual ficarei por no máximo mais quatro anos e onde deixarei marca alguma. Aquele maldito INSTITUTO que fantasiei durante dois anos de cursinho, onde enfim eu encontraria um rumo na minha vida, [onde] aprenderia uma profissão que ao mesmo tempo me conduziria à sabedoria e me diria como construir o que eu chamava de “um mundo melhor”...

Como eu era imbecil... melhor, como eu sou imbecil... Pelo menos eu descobri que não se deixa de ser um imbecil, e isto fica marcado na cara como um tapa a cada vez que se entra na imensa biblioteca e a cada texto lido e não compreendido e isto quando se lê o texto [...]

O INSTITUTO [...], foi para mim apenas mais uma vez onde eu disse “É agora que vou acontecer!!”. Disse isto pra mim em cada um dos meus anos do ensino médio e do cursinho e como nestes anos mais uma vez estou morrendo na praia... Outra vez saio, frustrado, pela porta dos fundos, pedindo desculpas, como sempre... O INSTITUTO foi apenas mais uma coisa que eu não soube fazer ao lado da música, do desenho, da matemática, do teatro, da biologia, da natação, do vôlei, do handball, das aulas de alemão, e de outras coisas e papéis mau desempenhados que gostaria de esquecer, mas que para minha infelicidade estão bem vivos na minha memória. O INSTITUTO foi apenas outro sonho esmagado pela minha própria incompetência...

Dia 6 de Março recomeçarei minha caminhada que chegará a lugar algum... E é desta forma porque perdi o interesse pelo que me propus estudar. Acabou o tesão pela coisa, sabe? Não entender e não conseguir bons resultados numa tarefa mina a motivação de qualquer pessoa, por isto decidi que apenas "irei levando” este curso, e se eu termina-lo o pomposo papel atestador do meu título de “Bacharel” repousará no fundo de uma gaveta lá em casa. Não posso simplesmente desistir e caçar outra coisa para fazer, primeiro por que mais nada me interessa e segundo porque preciso dizer para mim e para os outros que eu faço alguma coisa da vida, não posso me ver e deixarem me ver como um vagabundo oficial, preciso manter minha aparência de “rapaz-intelctual-dedicado-gente-boa-responsável”.

Quando as aulas voltarem, novamente me verei sem grana pro xerox[...]

Mais uma vez me dedicarei a ler teorias que não entenderei, assistirei aulas nas quais não aprenderei coisa alguma, entregarei provas em branco, atrasarei a entrega de trabalhos (isto se eu os entregar) e em outras provas lerei coisas do tipo ”Faltou desenvolver o tema”, “falta profundidade na discussão”, “Você apenas expôs o problema”, isto sem contar os inúmeros pontos de interrogação, salpicados como orégano, na folha toda.

A partir do dia 6 de Março sei que subirei pelas paredes preocupado para não reprovar o semestre sabendo que no máximo serei aprovado graças á caridade de um professor gente boa.

A partir do dia 6 de Março ficarei vagabundeando no CPD o dia todo por que não terei ânimo para estudar.

A partir do dia 6 de Março serei inconseqüente e esperarei, imóvel como o Davi do quadro [esperarei ser tocado por deus] , por uma solução mágica para todos os meus problemas, mesmo sabendo que esta solução não virá jamais.

A partir do dia 6 de Março começa o Inferno

A partir do dia 6 de Março, quase todos os dias subirei até o último piso, e mirando o horizonte apoiado numa janela me perguntarei: “Quando chegará o dia em que terei coragem pra deixar toda esta merda pra trás?”

Velharias - 07/11/2006 - algo esquecido na pasta

A única coisa que rege esta semana é o porre que prometi tomar quinta-feira
Vidinha ridícula
e o pior é não ter a coragem necessária para dar um fim
Nada atrai
Nada dá certo
Vazio...
Mas um vazio ridículo, pois ainda estou aqui
Infelizmente ainda aqui. E esta é a pior parte
Sequer vontade de chorar, gritar ou de fazer qualquer protesto contra esta apatia
Tudo incomoda
família, Amigos, livros, desenhos que não fiz, leituras inúteis
Não há prazer em coisa alguma
Não há projetos
Não há futuro
Não há presente
Nem passado
apenas...SEQUER um nada,
existem apenas sonhos quebrados, expectativas não correspondidas e quilos de frustrações banhadas por uma indiferença dolorosa de um estado vegetativo

De que servem as oportunidades, se sempre as desperdiço?
pra que? Uma vida desperdiçada no marasmo